A casa estava quase pronta para a passagem do ano. As mesas retiradas da chuva precisavam ser secas para colocar o forro em cima mas fora isto estava tudo no lugar. Inclusive os fogos de artifício fixados à grade do portão. Os olhos de Adolfinho percorriam o lugar extasiados. Era o primeiro reveillon que toda a família estaria reunida desde seu nascimento. E ele mal se continha. Os amigos e parentes foram chegando, a casa enchendo e ele só observando. Logo as brincadeiras com os primos começaram mas ele regularmente se ausentava para observar a festa. Não queria perder nada. Mas de repente um amolecimento foi começando e logo o possuiu de tal forma que antes da meia noite adormeceu no sofá. Seus pais o levaram para cama e de lá ele "viu" a entrada do ano novo.
Blog com poesias, textos e pequenas peças, além de fotografias e figuras realizadas ou trabalhadas pelo autor.
sábado, 31 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Tetrafluoretileno
No início estava sozinho. Não gostava de me juntar aos outros. Naturalmente isso não acontecia. Até que as condições normais de temperatura e pressão foram ajustadas e passei a fazer parte de uma turma. Ficamos juntos por um tempo. Não estava só então. Mas com o passar do tempo nossas ligações foram enfraquecendo e me vi sozinho novamente. Até tentei reproduzir as variáveis que se mostraram favoráveis àquela reação. Não consegui. Hoje sigo sozinho.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Valores
Pense quanto você paga em um salão de beleza quando faz hidratação e um corte de cabelo. Ou na conta da última vez que foi a uma boate. Ou no valor da “geral” que você deu no seu carro. Agora compare com o preço de uma consulta médica paga por uma das maiores empresas de planos de saúde, R$38,00. O trabalho de um profissional que passou, por baixo, 6 anos na faculdade e mais 2 na especialização, responsável muitas vezes pela diferença entre a vida e a morte, entre qualidade de vida ou deficiência e sofrimento. Isso numa sociedade que valoriza o máximo ganho com o mínimo de esforço, na geração control+V/control+C, onde o contato com amigos (muitas vezes do próprio bairro) é feito no Orkut, Facebook, Twitter, aumentando o isolamento na era do mundo global. Uma sociedade crédula na existência de uma pílula da felicidade, do emagrecimento, do qualquer-coisa-que-eu-quero-mas-não-me-esforço-para-ter, que não come frutas e verduras e toma comprimidos de concentrados de vitaminas. Onde eu Google o que acho/quero que tenho baseado na opinião do meu vizinho, colega de trabalho ou avó e afronto o profissional que passou anos se capacitando para fazer a condução do processo da minha saúde. Confronto seu diagnóstico sem saber que existem mais de 100 sorotipos somente do rinovírus, principal causador do resfriado comum. Não sigo suas orientações, tomo um frasco de vitamina C e em 3 dias ela “cura” minha gripe, que iria curar sozinha nos mesmos 3 dias, mas quem disse que a opinião de vários pesquisadores em saúde de todo o mundo que reproduziram várias vezes o mesmo resultado em ensaios clínicos controlados são mais qualificados do que eu para dizer o que funciona ou não? E sem falar nas peregrinações por vários profissionais, até conseguir alguém para dizer o que quero ouvir. Sem esquecer da nova moda de “Humanização da medicina”. Até onde se pode comprovar sou e sempre fui humano e, a não ser que eu tenha pego no sono em quase todas as minhas aulas eu também não estudei anatomia ou fisiologia venusiana. Se esse é o novo paradigma de saúde para a maioria das pessoas me colocarei à parte disso, oferecendo um cuidado segundo minhas convicções e minha formação profissional. Por favor, não me procure para um check up completo, usar da minha certificação para conseguir uma tomografia de encéfalo por conta da dor de cabeça que apareceu depois de brigar com o namorado ou tomar uma sentada do chefe, muito menos para prescrever um remedinho para emagrecer ou um Centrum. Tenho meus valores e eles são bem mais altos do que está na etiqueta que tentam pregar em mim.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Sedação natural
Duvidoso: 1. Que oferece dúvidas; incerto.
2. Que não merece inteira confiança.
3. Indeciso, hesitante.
4. Desconfiado, receoso.
A precisão é a característica mais valorizada hoje. Uma pessoa é tida como bem sucedida, confiável ou mais capaz graças a sua maior capacidade de se fazer algo como se propõe. Pessoalmente eu acredito mais no raciocínio e na flexibilidade. Não prego anarquia, só acho que mesmo em uma questão de múltipla escolha pode haver mais de uma resposta certa. Ou que ao se mudar o contexto a resposta muda também. Talvez pra melhor. Talvez pra pior. É onde entra o raciocínio “móvel”. Ele interage com o estabelecido e o torna maleável, facilitando o encaixe com a multifacetada realidade. Assim a evolução da sociedade ocorreu. Baseada em dúvidas inquietantes em noites de insônia. As confortáveis certezas sempre foram um calmante para alma.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Sobre planos e escolares
Toda manhã era a mesma cena: Adolfinho se arrastando com sono de sua agradável e quente cama para o desconfortável e frio banco do escolar. Não que à esta época ele não gostasse de ir para a escola, o problema maior era chegar lá. Depois, envolvido em atividades como colorir e brincar com seus colegas, o tempo passava rápido e já estava em casa. Tudo ocorria fluidamente na rotina matinal sem a interferência da vontade dele, até que um dia resolveu se impor. Não iria para escola naquela manhã, mesmo que isso significasse abandonar o conforto da cama mais cedo e ir se esconder. Atrás do móvel da TV não se importou com o sono ou a parede fria nas suas costas. Quando já era dia pleno e sua mãe não o descobrira vibrou de alegria. O plano havia funcionado! Algum tempo depois seus pais acordaram e foram ao seu quarto. Não o encontrando lá caminharam até a sala e o viram atrás da TV. O puseram no colo e disseram: coloque seu calção porque é sábado e vamos para o clube!
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