Os pais de Adolfinho haviam sido convidados para uma festa de aniversário no interior. Após discutirem se iriam ou não, passaram a discutir se levariam o filho ou não. Optaram por levá-lo. Malas prontas, recomendações de comportamento feitas, pé na estrada. Ao chegarem na cidade estavam adiantados para a festa e passearam um pouco. Adolfinho corria por entre os bancos das praças, subia nos brinquedos e monumentos que havia lá. Passadas algumas horas se dirigiram até a festa que seria na casa do anfitrião - mesmo porque já não havia mais o que fazer na cidade. Lá chegando a festa ainda se encontrava em seus preparativos finais. Eles fizeram um tour pela casa e Adolfinho já não se mostrava tão animado e obedecia as ordens de se comportar bem. Entretanto o último cômodo da casa guardava uma visão deslumbrante para ele: como o Didi reaparecendo por debaixo dos escombros e poeira no final de um filme dos trapalhões ele vislumbrou extasiado sobre uma mesa TODOS os doces feitos para a festa.
É claro que após aquela porta ter se fechado atrás dele Adolfinho não conseguia pensar em mais nada a não ser em como retornar a sua Terra Prometida. Todos se dirigiram até a sala onde começaram a colocar a conversa em dia e, ao lado dos pais, ele se sentia no purgatório, e com Cérbero ao lado, vigiando e lembrando de que ainda existiam lugares piores. Até tentou distrair sua mente brincando com um boneco do He-Man mas a qualquer menção de movimento que o garoto fazia um olhar era desferido em sua direção relembrando qual era o comportamento esperado. Depois de algum tempo, frustrado, ele teve uma idéia que de tão simples havia lhe escapado: pediu para ir ao banheiro. Permissão concedida, agora já sentia os perfumes do Éden.
Entrou na sala e não acendeu a luz. Com cuidado fechou a porta atrás de si e começou a comer os doces. Tomava o cuidado de ir comendo em pontos distantes uns dos outros e rearranjando os doces após retirar as forminhas vazias. E deleitou-se com os doces e com seu plano audacioso. Até quando estava com a boca cheia com dois brigadeiros e ouviu passos em direção a porta vindos do corredor. Num rápido giro retirou seu boneco do bolso e deitou-se no chão com os olhos fechados, fingindo dormir. A porta se abriu e ele ouviu a voz do dono da casa avisar seus pais que o havia encontrado dormindo no quarto, que devia ter entrado lá para brincar e acabara por cair no sono. Enquanto era carregado pelo pai até outro quarto para ser colocado em uma cama apreciou seu pensamento rápido novamente. Na cama com a luz apagada, pensou que deveria aguardar um tempo antes de "acordar" para comer mais quindins e bombons. Acabou por dormir de cansaço e não pode comer mais doces naquele dia.