terça-feira, 2 de julho de 2013

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Ele não exibia mais a força e presença que lhe eram peculiares já havia tempo. Primeiro foram as idas a padaria que escassearam. Depois a leitura dos jornais. Já visitava pouco seu refúgio sagrado, onde era rei e mantinha as coisas e idéias organizadas conforme sua vontade. Não dava mais suas cambalhotas. Seu neto participava desse processo como conseguia. Se organizou financeiramente e passou a se responsabilizar pelo fornecimento dos medicamentos necessários. Sempre que chegava naquela velha casa levava algumas caixas para o avô. Contava os comprimidos e se sentava na sala. Lá conversavam sobre futebol, porcos, cães e o ouvia falar do passado. Acreditava que era muito importante não se atrasar na época de levar os remédios para o avô. E ele deixava. O jovem demorou um pouco a entender que o maior alívio não vinha dos compostos químicos que trazia, e sim dos que produziam estando juntos. Passou então a levar outras prescrições como sorvetes e parentes. Percebeu que o importante era não atrasar com a visita. Sentia como se agora o regador estivesse em sua mão, era sua vez de regar o avô. E assim lentamente foram se despedindo a cada vez que se encontravam.

Um comentário:

  1. Maravilhoso. Emocionei... Regar o avô: reflexões! Queremos ser regados, ao final. Mas é bom regar também.

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