sábado, 18 de janeiro de 2014

Casa velha, em ruínas

Cópia do manuscrito original
Da distância que estávamos, só era possível distinguir dentre o verde pedaços soltos de telhas já amarelas que pareciam flutuar sobre a vegetação que cercara a casa. Com dificuldade tentamos nos aproximar mais alguns metros, mas as plantas daninhas que ali moravam pareciam ter vida própria e uma vontade de aprisionar com seus galhos e folhas tudo que se aproximasse delas. Tentamos a foice. E a luta foi lenta e árdua, o verde resistindo aos golpes que cortavam sua vida, mas conseguimos. Não havia mais porta: apenas uma placa de madeira inclinada na parede onde estava telhado o nome daquele engenho. Quase não havia parede, só tijolos que ainda sobreviviam mas que, como o resto, cedo virariam pó. A escuridão nos impedia de continuar. Tivemos de quebrar as telhas que ainda estavam penduradas no alto, para que fosse possível a entrada da luz do sol que não brilharia por mais tempo. No chão de madeira as ervas já começavam a surgir. Não havia móveis ou qualquer objeto que indicasse que havido gente morando naquela casa no passado. Nem animais. Só o verde, intruso e vitorioso. Em um dos quartos encontramos livros jogados no chão, uma cadeira, uma mesa e um copo de vidro quebrado. E também um retrato torto, pendurado na parede torta, cheirando a mofo e a pó, a única indicação do passado naquela casa. O resto era ruínas que, por contradição, não lembravam o passado e sim a decadência atual. Começou a escurecer e tivemos de voltar. E o verde, silencioso, seguiu em sua marcha lenta, para cima e para os lados, até fazer o velho engenho morto submergir de vez. 
"Renato Russo"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A opressão do self

Espero que a Karina não tenha esquecido seu lanchinho Foi preparado com amor e carinho Nesse cotidiano cada vez mais mesquinho É preciso um ...