quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sacolão



   Osvaldo tinha 42 anos e havia acabado de se separar da esposa. Nunca antes precisou cuidar de afazeres de casa. Primeiro a mãe, depois a esposa se encarregaram disso. Funcionário de um banco, zagueiro firme nas peladas e possuidor de opiniões firmes sobre financiamento estatal a ONG´s, agora era apenas um homem de meia idade perdido no corredor de frutas do supermercado confuso com duas laranjas na mão sem saber o que fazer depois. Foi quando Helena ficou com pena dele e veio em seu socorro.

   - Precisa de ajuda?

   Ainda um tanto perplexo ele demorou um pouco para responder. Em parte por se assustar com a beleza de Helena. Mas também por ainda estar intrigado com o mistério em suas mãos. 

   - Como eu sei se a laranja está boa?
   - Se a casca tiver lisa e a laranja firme ela vai dar muito suco.

   Era um acontecimento inédito para Osvaldo. Ser abordado por uma bela mulher dessa maneira. E melhor ainda -  o ajudando em uma atividade doméstica. Ela escolheu as laranjas e se ofereceu a continuarem as compras juntos. 

   - As folhas que estão amareladas, com pequenos furos e pontas queimadas estão ruins. 

   Foram conversando coisas sobre onde nasceram, qual faculdade frequentaram e até descobriram algo em comum: filmes do Woody Allen e peteca. Uma pequena tensão sexual foi crescendo entre eles e se tornou óbvia após a sugestão de Helena na sessão de temperos.

   - Malagueta pra esquentar as coisas - era meu apelido na escola...

   E então não parou mais.

   - Tem que palpar os melões e sentir eles bem firmes.
   - Quando você passa a unha de leve no pêssego sente os pelinhos e o cheiro bom.
   - A cenoura tem que ser firme, com a superfície lisa e as médias são as melhores. 

   Nessa hora ele teve certeza - Helena estava no ponto.

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