Era a terceira vez na semana que Carlos acordava na sala de sua casa ao lado de uma poça de vômito próximo ao meio dia. Era uma quinta-feira mas ele havia sido demitido há 15 dias então não se preocupou. Desde que sua esposa foi embora - já não aguentava os desaforos ditos durante a embriaguez, as visitas ao pronto-socorro devido às quedas, a falta de dinheiro e as dívidas pioradas pela bebida - ele se volatara com maior intensidade ao alcoolismo. Ajudava a dormir, a não pensar nos problemas e nos filhos que não via desde então. Mas agora, mesmo ainda sobre o efeito final da embriaguez a saudade dos meninos apertou. Pensou em procurar alguma forma de ajuda, terapia, AA, agarrar-se a alguma religião, fazer alguma coisa para reconquistar aos poucos o que perdeu. Pegou o telefone e ligou para a casa da sogra aonde a esposa estava com as crianças. Não conseguiu falar com elas e ouviu poucas e boas. Aquilo pareceu certo, não era a primeira vez que prometia tomar jeito. Pensou em ir até a igreja da esquina conversar com o padre, talvez ele conseguisse um emprego. Levantou-se, ainda cambaleante, a procura de algo para beber antes de sair...
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Andrea retorna da visita ao CTI onde seu filho está internado após um acidente com sua motocicleta. Após chegar em casa recebe uma ligação. Atende o telefone e é sua mãe querendo notícias do neto, mas principalmente de sua filha, pois sabe da situação crítica do acidentado#Ele continua do mesmo jeito mãe. O médico disse que seu estado é estável#Não sei filha, estável nesses casos não é bom#Mas ele está assim desde o acidente, tirando a infecção#Então, já tem um mês e não houve melhora, ele não acorda...
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Era véspera de natal e Paulinho aguardava ansioso pela visita do Papai Noel. Estava agitado e não conseguia dormir, rolando de um lado para o outro na cama. E cada mexida fazia barulho no saco plástico que seus pais usaram para cobrir o colchão tantas vezes usado como banheiro. Com isso seu irmão não conseguia dormir e o xingou#Você pode ficar quieto e dormir!?!?!#Não consigo Dudu, quero ver logo meu presente#Mas com você acordado ele não vem#Eu sei, mas eu quero que chegue logo de manhã#Fica quieto logo menino, a mamãe já comprou seu carrinho de bombeiro!#Mas não é da mamãe, é do Papai Noel...
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As vezes preferimos a ilusão ao desespero.
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