domingo, 11 de agosto de 2013

Sobre camisas novas e folhetins

     Adolfinho havia ganhado uma roupa nova para ir ao casamento da sua tia que ocorreria em alguns dias. Usualmente não ligava muito para roupas mas desta vez foi diferente. Ele ficou maravilhado com a camisa nova e não via a hora de usá-la pela primeira vez. Talvez um primeiro sinal que sua infância pudesse estar no começo do fim.
     Sua mãe, entretanto, não queria nem ouvir falar de uma estréia antecipada. Temia pela integridade da peça que não tinha sido barata. Teve então de conviver com o constante assédio de seu filho que pedia constantemente para usar a camisa em qualquer ocasião. Ir a padaria, na casa da avó ou até mesmo para brincar de esconde-esconde. Sua paciência finalmente acabou quando em uma noite Adolfinho pediu para ir para escola no dia seguinte, que acabou dormindo de bunda quente.
     Antes de sair para aula no dia seguinte Adolfinho escondeu a camisa na mochila. Quando chegou a hora do recreio ele esperou todos saírem da sala e trocou sua roupa. Agora sim sua camisa refletia o quanto se sentia galante. Na volta da aula sua professora estranhou a ausência do uniforme e perguntou o que havia acontecido.
       - É que meu pai foi assaltado e foi pro hospital. Minha mãe vai me buscar depois da aula pra gente ir lá. 
     Como era de se esperar a professora ficou consternada e permitiu que o aluno permanecesse com a camisa. E até teve os olhos rasos em lágrimas quando viu a mãe do garoto chegar a escola. 
       - Fiquei sabendo do seu marido, não sei o que dizer.
       - Mas você tem que dizer algo, o que você ficou sabendo?
       - Do assalto, a internação...
       - ...CAPLOF
     Após recobrar a consciência, a mãe de Adolfinho ligou para o celular do seu marido que obviamente estava bem. Adolfinho não iria usar mais sua bela camisa. Nem assistir aos telejornais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A opressão do self

Espero que a Karina não tenha esquecido seu lanchinho Foi preparado com amor e carinho Nesse cotidiano cada vez mais mesquinho É preciso um ...