sábado, 3 de abril de 2010

O eco do silêncio

Ao entrar, sentiu o cheiro peculiar do apartamento. Não era novo para ela e veio com recordações juvenis. As coisas cheiram do que guardamos delas. E como não foi recebida pela dona da casa, sentou-se no sofá cansado pelo esperar o calor de uma companhia. À janela, olhando para (ou através) da cortina viu sua mãe. Já iam anos desde o último encontro, e a visão do corpo já debilitado pelo passar do tempo a balançou. Será que o afastamento não poderia ter sido evitado? A dúvida durou o tempo de uma respiração. # O que quer? # Vê-la. # Pois então. # Pois então o que? # Viu e continua aí. # Venho passando um momento ruim. Muitos pesadelos. E os piores depois de acordar, pois não posso fugir acordando. # E o que espera de mim? # Nada. Esperava de mim. Sempre tentei calar o estalo de algo que quebrou há muito tempo. Acreditava que boa parte de meus problemas vinham dele. # Então? # Agora vejo que vem do silêncio que fiz em mim. Ao se levantar não olhou para trás. Veria o que sempre viu, o rosto de lado. Saiu pela porta que já havia cruzado inumeras vezes, mas que só agora fechava.
(Postado originalmente em 18/04/2009)

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