quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Prioridades

Estava tomando café sem pensar em nada e meus olhos cruzaram com as seguintes informações nas caixas de suco sobre a mesa:
Em uma época onde ser preciso é uma grande virtude eu pergunto: não seria melhor anunciar na caixa em destaque e com detalhamento o salário pago aos trabalhadores que cultivam, colhem, separam, embalam e transportam as frutas ou os vários aditivos químicos adicionados ao produto? Viveria bem como a imperfeita informação que para fazer o suco foram usadas 4 mangas ou cachos de 200g.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Diário da balança #10: 113 (+1)

Ok, curto e grosso: achei minha kryptonita.
                                                                 Alexandre, o graaaaaaaaande.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Notícias populares

"No último final de semana foram realizadas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e a estudante D.A.N. foi desclassificada por colar segundo o fiscal de prova. 'Eu vou entrar com recurso. Ninguém me avisou que não poderia escrever na mão durante a prova. Tive dúvida entre S ou Z em lucidez e escrevi na mão para não rasurar a prova'. Em nota oficial o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), órgão responsável pelo exame, informa que a grafia correta é L U C I D E Z."
Por Salvador Patranha para o Diário da InVerdade

domingo, 13 de outubro de 2013

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cenas da vida - sala de casa 5:13h

- Muito bonito! Posso saber o motivo do senhor chegar em casa nesta hora?
-...é... acho que a missa demorou um pouco mais!

sábado, 31 de agosto de 2013

Notícias populares

"Em uma decisão geopolítica inédita desde a aquisição do Acre o governo brasileiro acertou a venda do nordeste para o Japão em troca dos direitos autorais das séries Ultraman, Jaspion, Changeman. O problema da imigração através da nova fronteira foi abordado em entrevista pela imprevidenta presidenta "

Por Salvador Patranha para o Diário da InVerdade

domingo, 25 de agosto de 2013

Sereia

...Vê como é que anda
Aquela vida à tôa
E se puder me manda
Uma notícia boa...


Estava lendo quando fui surpreendido por sua voz por baixo da música que tocava no som. Parei de ler para apreciar melhor. Fazia um tempo que não ouvia sua voz ser entoada pela casa seguindo as notas de uma canção. E mesmo agora não era cantada com toda a força dos pulmões. Era um canto tímido, preservado sob o som ambiente. Assim como seu corpo no jogo de luz e tecido às noites. E igualmente belo.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Diário da balança #9: = 112

     Após ser informado da saída do companheiro dono do assustador cofrinho resolvi retomar minha participação no Vigilantes do Peso. E depois de voltar, mesmo com as transgressões cometidas junto aos meus colegas, eu estava conseguindo algum resultado. O segundo problema lá no grupo foi quando escrevi uma carta para a direção da instituição quando a orientadora ganhou peso e ela foi demitida. No começo me senti mal pela minha participação em sua demissão mas, assim como o sentimento de culpa após comer uma caixa de Bis® de uma sentada, o remorso passou. 
     Algumas semanas após o fato, em uma bela tarde de primavera, estava eu na fila do caixa na padaria próxima a minha casa quando percebi uma voz familiar atrás de mim: era minha ex-orientadora. Ela ficou falando alto com uma colega a quantidade de calorias de cada uma das minhas guloseimas. No começo achei estranho e não entendi seu objetivo. Mas ao sair de lá já não estava com tanta vontade de comer. O remorso da transgressão alimentar veio antes mesmo de comer. E agora todas as vezes que tento escapar do regime ela surge atrás de mim contando as calorias e me fazendo sentir culpa pela gulodice que virá. Estou cogitando mudar de bairro.
Alexandre, o graaaaaaaaande.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Só para não perder a piada

Ouvi em um programa de rádio que o Ronaldinho Gaúcho foi submetido a um pequeno procedimento odontológico nos últimos dias. Deve ser por isso que tinha uma escavadeira a menos na obra da trincheira na Av. Pedro I.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Despedida

     No começo da nossa relação tudo era tão bom. Bom como só as coisas simples e puras podem ser. Nos descobrimos bem aos poucos, com o pudor e a timidez próprias dos primeiros passos. Crescemos juntos. Fomos nos tornando mais próximos, íntimos. O relacionamento cada vez mais forte. Enfrentamos a vida, que insiste em colocar obstáculos nos caminhos de todos. E ficamos mais unidos. 
     Até que novamente o destino se colocou entre nós, e desta vez não pudemos evitar. O distanciamento chegou, outras relações também, mas o pensamento estava sempre aqui. E quando possível corria pra você. Até que retomamos de onde havíamos parado. Ou ao menos isso nós pensávamos.
     O tempo e o crescimento inevitável que vem com ele acabou por trazer dificuldades entre nós dois. Evoluímos, mas cada um para um lado. E quanto mais tempo ficávamos juntos, mais isso era evidente. Já não havia a mesma leveza e coordenação entre nossos movimentos. Até no bolso a relação ia pesando. O atrito era cada vez maior. O tempo junto menor. Nos distanciamos lado a lado. 
     Agora com a cabeça mais clara e os pensamentos em ordem vejo que já não é possível continuarmos juntos. Vou buscar uma nova casa para fazer meu lar. Tentar voltar a ter aquele sentimento bom que só uma relação simples e pura pode oferecer. Guardo você no coração mas aqui me despeço. Adeus Belo Horizonte.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ilusão de ótica

"O futebol brasileiro são várias camisetas
 com a mesma propaganda de refrigerantes"
                                       Humberto Gessinger

Você sabe o que os seguintes clubes de futebol tem em comum?

Corinthians, Flamengo, Chapecoense, Asa, Figueirense, Vitória, Coritiba, Atlético-PR,  Atlético-GO, Avaí e Vasco.

Todos são patrocinados por você.

O Estado já provia o pão de uma considerável parcela do eleitorado, digo, da população, com o bolsa-família, bolsa-gás, bolsa-voto... Agora chegou a vez do circo.

domingo, 11 de agosto de 2013

Sobre camisas novas e folhetins

     Adolfinho havia ganhado uma roupa nova para ir ao casamento da sua tia que ocorreria em alguns dias. Usualmente não ligava muito para roupas mas desta vez foi diferente. Ele ficou maravilhado com a camisa nova e não via a hora de usá-la pela primeira vez. Talvez um primeiro sinal que sua infância pudesse estar no começo do fim.
     Sua mãe, entretanto, não queria nem ouvir falar de uma estréia antecipada. Temia pela integridade da peça que não tinha sido barata. Teve então de conviver com o constante assédio de seu filho que pedia constantemente para usar a camisa em qualquer ocasião. Ir a padaria, na casa da avó ou até mesmo para brincar de esconde-esconde. Sua paciência finalmente acabou quando em uma noite Adolfinho pediu para ir para escola no dia seguinte, que acabou dormindo de bunda quente.
     Antes de sair para aula no dia seguinte Adolfinho escondeu a camisa na mochila. Quando chegou a hora do recreio ele esperou todos saírem da sala e trocou sua roupa. Agora sim sua camisa refletia o quanto se sentia galante. Na volta da aula sua professora estranhou a ausência do uniforme e perguntou o que havia acontecido.
       - É que meu pai foi assaltado e foi pro hospital. Minha mãe vai me buscar depois da aula pra gente ir lá. 
     Como era de se esperar a professora ficou consternada e permitiu que o aluno permanecesse com a camisa. E até teve os olhos rasos em lágrimas quando viu a mãe do garoto chegar a escola. 
       - Fiquei sabendo do seu marido, não sei o que dizer.
       - Mas você tem que dizer algo, o que você ficou sabendo?
       - Do assalto, a internação...
       - ...CAPLOF
     Após recobrar a consciência, a mãe de Adolfinho ligou para o celular do seu marido que obviamente estava bem. Adolfinho não iria usar mais sua bela camisa. Nem assistir aos telejornais.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Classificados

Aluga-se casa em região nobre da cidade, arquitetura arrojada, construída com material reciclado, cercada por árvores, bem arejada, posição privilegiada contra alagamentos e assaltantes, ideal para ornitólogos. Preço acessível, tratar com Sr João da Mud Empreendimentos.

domingo, 28 de julho de 2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Diário da balança #8: 112(+4)

Ok, quelle surprise. A mastigação de linhaça não durou. Entretanto tenho uma perfeita racionalização que me exime de qualquer culpa: apenas após começar a se alimentar de carnes e ovos o homem conseguiu o aporte calórico/proteico necessário para o desenvolvimento do seu córtex cerebral, possibilitando seu domínio sobre a terra. Parece insensato contrariar tal lógica comendo rúcula - que por sinal ainda possui um nome muito cacofônico. Obviamente meu peso concordou comigo e também reagiu se elevando. Resolvi então frequentar um grupo dos Vigilantes do peso. Na primeira reunião fiquei deslocado, pouco participativo. Aos poucos estava até me interessando quando de repente tive um vislumbre das trombetas do apocalipse. A visão mais aterrorizante que existe, depois da mesa de coxinha vazia: um cofrinho, na verdade praticamente um Banco Central, obeso e cabeludo, bem na minha frente. Saí de lá decidido a não voltar. Até hoje tenho pesadelos com ele. Em uma avaliação psicológica no trabalho com o teste de personalidade Rorschach só enxergava aquele vórtex de adiposidade peludo. E o pior é quando lembro fico ansioso e acabo comendo mais.
Alexandre, o graaaaaaaaande.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Notícias populares

"Um fato inusitado ocorreu ontem no campo do Villa Nova. Aos 43 minutos do segundo tempo o beque central Ramirez cobrou com perfeição uma falta do círculo central, marcando o gol da vitória. Ao buscar a esférica nas redes o arqueiro Alface notou que a bola havia estourado devido a potência do chute."
Por Salvador Patranha para o caderno de esportes do Diário da InVerdade

domingo, 7 de julho de 2013

Ouroboros

O mais esperado chega e se desenrola. Enquanto se desenvolve e cresce dá mais um passo em direção ao fim. Até recomeçar. A paixão é sempre assim.

terça-feira, 2 de julho de 2013

348



Ele não exibia mais a força e presença que lhe eram peculiares já havia tempo. Primeiro foram as idas a padaria que escassearam. Depois a leitura dos jornais. Já visitava pouco seu refúgio sagrado, onde era rei e mantinha as coisas e idéias organizadas conforme sua vontade. Não dava mais suas cambalhotas. Seu neto participava desse processo como conseguia. Se organizou financeiramente e passou a se responsabilizar pelo fornecimento dos medicamentos necessários. Sempre que chegava naquela velha casa levava algumas caixas para o avô. Contava os comprimidos e se sentava na sala. Lá conversavam sobre futebol, porcos, cães e o ouvia falar do passado. Acreditava que era muito importante não se atrasar na época de levar os remédios para o avô. E ele deixava. O jovem demorou um pouco a entender que o maior alívio não vinha dos compostos químicos que trazia, e sim dos que produziam estando juntos. Passou então a levar outras prescrições como sorvetes e parentes. Percebeu que o importante era não atrasar com a visita. Sentia como se agora o regador estivesse em sua mão, era sua vez de regar o avô. E assim lentamente foram se despedindo a cada vez que se encontravam.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Cenas da vida - fila da cantina na escola

- Oi Claudinho, posso entrar na sua frente?
- ... ... ...
- Aqui está meio apertado não é?
-... ... ...
- E quente. Vou tirar minha blusa e ficar de top.
-... .
- Claudinho?!?!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

E o Bolsa-família não se acabou

Anunciaram e garantiram
Que o Bolsa-família ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá a Caixa
Começou a lotar...

E até viram da fila o sol
Nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez feijoada...

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o Bolsa-família ia se acabar
E fui tratando de me prevenir
E sem demora fui tratando
De ir no banco sacar...

Beijei a bôca
De quem tava na fila
Peguei na mão
Do idoso que não conhecia
Até em cego eu dei um caô
E o tal do Bolsa-família
Não se acabou...

Anunciaram e garantiram
Que o Bolsa-família ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá a Caixa
Começou a lotar...

E até viram da fila o sol
Nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez feijoada...

Chamei um caixa
Com quem não me dava
E molhei a sua mão
E dividindo o meu vencimento
Saquei com ele
Mais de quinhentão...

Agora eu soube
Que a presidenta anda
Dizendo coisa
Que não se passou
E vai ter barulho
E vai ter confusão
Porque o Bolsa-família não se acabou...

Anunciaram e garantiram
Que o Bolsa-família ia se acabar...


Paródia do samba de Assis Valente





P.S. Só mesmo no Brasil o governo desvia o dinheiro dos impostos pagos pela classe média para sustentar as classes C, D, E... (para manter seu curral eleitoral e se perpetuar nessa baderna e corrupção - ao menos nosso alfabeto não tem o K, Y e W oficialmente) e é incompetente ao ponto de gerar essa confusão, pra depois colocar a culpa na oposição - que desde 2003 ainda não conseguiu amarrar sapatos sem ajuda...

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cenários # 4

Se naquele dia eu não chegasse atrasado quem sabe não teria perdido o emprego.
Se tivesse ainda um trabalho quem sabe teria mantido minha estabilidade emocional.
Se me controlasse melhor quem sabe meus amigos não se afastassem.
Se não desequilibrasse o humor quem sabe você não me abandonaria.
Se mantivesse a sanidade quem sabe não me mataria.


***


Se naquele dia eu não tivesse perdido a hora para acordar chegaria na hora na empresa e quem sabe não teria perdido o emprego. Se tivesse ainda um trabalho poderia arcar com minhas contas e quem sabe teria mantido minha estabilidade emocional. Se me controlasse melhor teria sido mais agradável e quem sabe meus amigos não se afastassem. Se não desequilibrasse o humor me manteria mais presente, carinhoso e acessível, e quem sabe você não me abandonaria. Se mantivesse a sanidade e organizado minhas idéias, daria um norte para minha vida e quem sabe não me mataria.


***


Se naquele dia eu não tivesse passado a noite em claro esperando por eles até cair no sono não teria perdido a hora para acordar chegaria na hora na empresa e não teria perdido o emprego se tivesse ainda um trabalho poderia arcar com meus suprimentos sem preocupações e teria mantido minha estabilidade emocional se me controlasse melhor teria conseguido dissimular melhor e mantido os amigos próximos se não desequilibrasse o humor ficaria forte e você não me abandonaria se mantivesse a sanidade e organizado meus planos e não deixaria que me matassem


***

Se naquele dia eu não tivesse passado 
a noite em claro esperando por eles 
virem me buscar com suas antenas 
e visão infravermelha tentando roubar 
minhas idéias até que me sedassem com
um dardo não teria perdido a hora para 

acordar chegaria na hora na empresa e 
não teria perdido o emprego mas de 
qualquer maneira já havia um espião 
infiltrado lá para me pegar se tivesse 
ainda um trabalho poderia arcar com 
meus suprimentos especiais para 
construir bloqueadores de transmissão 
de idéias sem preocupações e teria 
mantido minha estabilidade se me 
controlasse melhor teria conseguido 
dissimular melhor os planos e  mantido 
os pseudoamigos próximos para revelar 
a verdade no momento correto se não 
desequilibrasse o humor ficaria forte e 
perceberia sua traição se mantivesse a 
sanidade e organizado meus planos e 
mataria a todos que me prejudicaram

domingo, 26 de maio de 2013

O que aconteceria comigo se...

...eu resolvesse comprar coisas que gosto.
     De uma forma em geral não sou pão duro. Acredito que o dinheiro ganho com trabalho serve para alcançarmos objetivos. E o maior objetivo é a felicidade. Assim, usualmente gasto meu dinheiro comprando pequenos presentes para quem gosto, pagando a conta de um restaurante onde reuni amigos e família, etc. Mas não tenho por hábito comprar aqueles pequenos supérfulos de alegria momentânea para mim. Então, em um dia de outono quando o sol brilha mas o clima é frio, resolvo em um rompante voltando do trabalho no final da manhã de domingo passar em um shopping e comprar o que me apetecer. Desvio do caminho de casa e entro no estacionamento. Como havia definido que aquele seria o dia de mimo, me dirijo as vagas mais próximas da entrada que usualmente estão indisponíveis. Bem de frente a porta havia um lugar. Estaciono e  entro no estabelecimento. Vejo então que as lojas estão fechadas e só abrirão em quatro horas.

sábado, 25 de maio de 2013

A banda do tchum-tchum-tchum ou do pêrequetê


     Não é rocket science o motivo das músicas com onomatopéias fazerem tanto sucesso. Elas são fáceis de decorar e de cantar (uma vez que não tem letra para saber). E para o sucesso ser instantâneo é só nos 3 ou 4 versos que contenham de fato alguma palavra insinuar que o ruído a ser repetido pela platéia de miquinhos amestrados na verdade representa o ato sexual, de preferência associado a uma coreografia com rebolado e o movimento das mãos trazendo o imaginário corpo para juntinho do seu...assim você me mata...lembrando dessa música, que por sinal passou a fase gutural quase pré-silábica em questão, e consegue até ter cerca de 8 versos, ela também se vale de muitos dos elementos acima mencionados e contaminou o mundo mais rápido que um novo sorotipo de influenza em uma escola primária.
     É claro que não precisamos ouvir Bach ou então João Gilberto em uma festa de formatura, as coisas tem seus lugares. O problema é a ubiquidade que cada vez mais ocorre com esse tipo de música. Pode parecer que não, mas é cada vez mais comum que uma parcela  crescente da população escute somente esse tipo de música. E a extrapolação óbvia é que eles também não tem o hábito de ler. Nem legenda - reparou como cada vez mais até na TV paga os programas estão sendo dublados sem que se possa ter direito a optar pelo áudio original com legendas? É um exemplo claro da interferência desse "novo" padrão de cultura na sua e na minha vida. O pior é que são essas pessoas que nos atendem nos serviços de atendimento ao consumidor, que ligam para nossas casas para fazer telemarketing, trabalham em cinemas, guarda municipal e, no futuro (?) nos atenderão durante um infarto ou para uma representação legal.
     Enfim, como não vivo em uma bolha, só me resta assistir a tudo como quem leu o resumo da novela da semana e depois assiste na TV. Enquanto isso me divirto com pequenas manifestações como o vídeo que se segue. Espero que no final da vida cnsoiga ocnutinar ecrevsendo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Notícias populares


"Em Belo Horizonte já se vive o clima das festas de São João. Para as festividades deste ano um confeiteiro do Mercado Central preparou um pé de moleque no formato de uma criança de oito anos em tamanho natural."
Por Salvador Patranha para o Diário da InVerdade

sábado, 4 de maio de 2013

Troque seu cachorro por um vírus pobre

Recentemente li em uma referência bibliográfica um relato emocionante: a existência de uma família de vírus chamada Reovírus. Em seres humanos eles são aparentemente comensais ou no máximo oligossintomáticos, embora alguns achados sugiram que eles possam estar relacionados ao surgimento de uma rara síndrome reumatológica, a doença de Coogan. E por não causarem nenhuma doença identificável, como sarampo ou ebola, são conhecidos como vírus órfãos. Abandonados, sem ninguém doente por eles. Então inicio aqui a campanha "Troque seu cachorro por um vírus pobre". Imagine a cena: você chega em casa cansado do trabalho, trânsito e todas as chateações da vida urbana moderna, mas quando abre a porta aquela particulazinha protéica vem voando em um perdigoto até você te dar boa noite. É bem melhor do que um cachorro ou qualquer animal de estimação. Alguns mais antissociais diriam melhor até do que uma pessoa (em concordância com muitas mulheres em TPM). Então pense bem antes de fazer sua próxima caridade: já existem a Sociedade Protetora do Animais, Direitos Humanos, Greenpeace e várias outras instituições para cuidar dos usuais desprotegidos. Adote um reovírus.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Diário da balança #7: 108(-4)

Alguns dias de assaduras depois da última consulta médica desisti dos químicos para emagrecer. Procurei exatamente o oposto. Adotei uma postura mais natural quanto aos alimentos. Alguns colegas de trabalho chegaram a se cotizar para bancar uma consulta psiquiátrica quando me viram mastigando alguns palitos de linhaça, com medo de em alguma fratura da minha psique eu ter me tornado um panda brasileiro. Mas era apenas parte do meu novo cardápio que inclui tâmaras recheadas, anéis de canela, caldo verde e mingau de aveia. Tenho feito refeições regulares a cada 3 horas e realmente isso diminuiu o apetite. Também quem em sã consciência desejaria uma trouxinha de repolho. Para ser justo, cerca de uma vez por semana aparece um chocolate amargo do tamanho das extintas moedas de 1 centavo. Tem dado certo. Vamos ver por quanto tempo meu motor vai rodar a base de suco energizante.
                                                                                          Alexandre, o graaaaaaande.

domingo, 28 de abril de 2013

Deviam ter pensado nisso

O homem busca sempre o caminho mais fácil. Como quando dividiu a história da humanidade e logo escolheu chamar seu período de moderno, ficando livre para poder se sentar e assistir uma competição de justa. Mas isso criou um problema. Quando o tempo passou e entramos em uma nova fase, qual seria a fase após a moderna? Algum apressado sem visão de futuro, querendo pedalar o problema para uma geração futura e não perder as execuções da Revolução Francesa, propôs então que se chamasse idade contemporânea. Resolveu? Não. Complicou. Contemporâneo é aquilo que é do mesmo tempo, da época atual. Quando esse período da humanidade passar como vamos chamá-lo olhando para trás? Talvez tivesse sido mais vantajoso alguém sugerir pós-moderno como nome...

sábado, 27 de abril de 2013

Cenas da vida - casamento

 - Viestes aqui para celebrar o vosso Matrimônio.  É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo?
 - Sim.
 - Sim.
 - Vós que seguis o caminho do Matrimônio, estais decididos a serdes fiéis um ao outro, ao longo de toda a vossa vida?
 - Eh...
 - A gente já combinou outra coisa antes...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Notícias populares

"Na partida de ontem os times da Contorno de Baixo e Contorno de Cima se enfrentaram no campo do Sete de Setembro, em partida que teve impressionantes 12 horas de confronto, terminando com o placar de 47X33."
Por Salvador Patranha para o Caderno de Esportes do Diário da InVerdade

sábado, 13 de abril de 2013

Filtro por um fio

As telecomunicações estão cada vez mais populares. Contrastando com a “fila do telefone” de duas décadas atrás, hoje é comum que mesmo nas residências humildes do país exista mais de um telefone celular. Ligar para vários países pode ser mais barato do que uma ligação local. A entrega de malotes e correspondências é realizada para qualquer região do planeta e o percurso acompanhado diariamente pela internet. Nada, entretanto, se compara a evolução da internet. Mensagens instantâneas pelo Messenger e Skype, compartilhamento da vida íntima em blogs, facebook e twitter, visualização de vídeos ou fotos instantaneamente. Tudo a distância de um clique. E em aparelhos cada vez menores e mais versáteis. Os iphones que carregam dados tiram fotos, tocam músicas e até funcionam como telefones e cabem no bolso. A minimização da distância geográfica proporcionada por tamanha evolução, paradoxalmente, aumentou a distância interpessoal. Amigos que moram na mesma rua se encontram pelo computador. As novidades são postadas em scraps. Nos minutos livres entre uma aula e outra não se houve uma roda de violão. No meio de uma conversa o clicar frenético na tela dos aparelhos faz o “olho no olho” virar “olho na testa”. O relacionamento humano filtrado por dispositivos eletrônicos. Falsa proximidade, intimidade. Fria proteção. Do que ou por que não sei. Apenas aumento o volume do meu MP4.

sábado, 23 de março de 2013

Diário da balança #6: 112(-3)


Após alguns contratempos com a dieta resolvi voltar ao endocrinologista. Havia ficado um pouco receoso depois de ter delírios persecutórios e me juntado a uma seita apocalíptica enquanto tomava um medicamento para reduzir o apetite - que provavelmente tinha por base cocaína ou veneno de rato. Após uma avaliação inicial recebi como um dejà vu as usuais recomendações de moderação alimentar e prática de atividade física regular. Convenhamos: se eu comesse o que gosto com moderação e levantasse meu traseiro gordo da poltrona carcomida onde usualmente ele repousa não teria gasto com médicos e remédios o mesmo que a Roseana com comida para seu staff. Enfim, no final da consulta ele recomendou o uso de Orlistat, um medicamento para reduzir peso sem efeitos sobre o apetite. Até funcionou com o peso mas qualquer medicação que contenha na bula dizeres como urgência fecal, flatulência com evacuação ou incontinência fecal devia vir com um pacote de fraldas e óculos com nariz postiço grátis para evitar futuros embaraços.
                                                                                         Alexandre, o graaaaaaaande.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Notícias populares

"No centro de Belo Horizonte foram vistos grandes ratos perambulando entre os carros. Segundo populares, um ônibus capotou após atropelar um desses animais. Três passageiros foram encaminhados ao pronto socorro. O roedor passa bem."
Por Salvador Patranha para o Diário da InVerdade

sábado, 16 de março de 2013

Sobre declarações e relacionamentos

     Adolfinho estava com um problema: uma menina da sua rua gostava dele. Tudo começou em um aniversário de outra criança da vizinhança quando Paloma o viu pela primeira vez. Para onde ele fosse ela ia atrás carregando uma boneca com cheiro de morango. A brincadeira que ele começava ela queria participar. Ele foi ficando nervoso e resolveu se esconder por um tempo. Entrou no banheiro e lá ficou por cerca de uma hora - o que para crianças é quase uma eternidade - ouvindo os gritos e comemorações dos que brincavam lá fora. Passado este tempo resolveu sair. Abriu a porta devagar olhando pela fresta para tentar identificá-la antes de ser visto. Com o campo livre saiu e deu de cara com ela que o esperava atrás da porta e disse com um sorriso banguela #Tô qui pelano ochê!# 
     Depois dessa festa a vida social de Adolfinho se complicou. Em todas as brincadeiras com as crianças da rua ele encontrava com ela que não desgrudava dele. Chegou a receber uma cartinha dela (que para ele foi mais como uma ameaça de morte). E sua mãe sempre os vendo juntos achou que uma grande amizade se formava. Acabou ficando amiga da mãe da menina, indo toda semana conversar com ela, enquanto as crianças brincavam - leia-se Adolfinho corria e Paloma com sua boneca iam atrás. 
     O cúmulo para o menino foi quando no início do ano seguinte, ao chegar na escolinha, deu de cara com ela e sua mãe, que a havia mudado de escola para ficar na sala do amiguinho. Agora ele não tinha paz. Sua professora foi informada pelas mães da amizade e colocava os dois juntos para todas atividades, de mãos dadas nas filas para deslocamentos dentro da escola, para lanchar juntos e etc. Conformado Adolfinho não resistia mais. Já até tinha um pouco de cheiro de morango também. Fazia o que tinha de fazer com Paloma esperando uma brecha na atenção dela para escapar e brincar livremente. E em uma dessas escapadas se meteu em uma enrascada. Dois meninos da série acima de Adolfinho resolveram tomar seu brinquedo e ele preso em um canto resistia. Foi quando Paloma apareceu e acertou os meninos com sua boneca os espantando. E Adolfinho começou a enxergar os prós da sua relação. 

sábado, 2 de março de 2013

348


Estava chegando o dia de seu aniversário e o menino estava ansioso. Sua mãe havia prometido uma grande festa. E era apenas esse seu assunto. Um dia, ao pe do sofá do avô ele perguntou #Vô, o senhor vai na minha festa?# Eventos sociais não eram exatamente seu forte, então o avô com seu jeito brincalhão distraiu o neto e evitou a resposta. Nesta época ele passava por suas dificuldades e ainda não havia encontrado a trilha para sua dúzia de passos. No dia do aniversário o menino esperava ansioso a chegada dos convidados. Das crianças pelas brincadeiras. Dos adultos mais pelos presentes. Mas nesse dia algo mudou nesta forma de sentir/pensar. Seu avô não chegou a tempo de cantar parabéns. A bem da verdade, no final da festa ele ainda não havia chegado. O menino ficou triste como se uma das crianças que ele aguardava para brincar tivesse faltado. E antes de dormir, já na cama, sua mãe entregou uma nota de dez mil cruzados e disse #Esse é o presente do vovô. Ele não apareceu porque machucou a cabeça no carro quando vinha pra cá, mas está tudo bem. Amanhã vamos vê-lo.#

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Cenários # 3

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Enquanto manobra o caminhão para descarregar os produtos no armazém Yan não vê no retrovisor a parede se aproximar. Vê seu rosto apreensivo pela culpa. O som dos pneus é quase ensurdecedor.

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No caixa o movimento de passar os produtos pelo leitor de código de barras é hoje executado com maior automatismo que o usual. Embora tenha ido ao trabalho Gilvaneide ainda está com a cabeça no hospital onde sua mãe está internada no CTI. Ela foi acordada no início da madrugada pelo telefone tocando. Uma assistente social com a voz monotônica a avisou que sua mãe estava lá e que ela deveria comparecer assim que possível. 

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No leito onde Joana está acomodada há vários instrumentos médicos, tubos que drenam sangue e ar dos pulmões, cateter na bexiga para medir sua diurese, drenos abdominais, fixadores para o fêmur fraturado, acessos venosos que infundem soro, medicações para manter sua pressão e antibióticos. Não há espaço para ela. É apenas mais uma paciente em choque após um atropelamento.

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Apesar de estar manobrando seu caminhão a uma velocidade muito baixa Yan sente o vento e o suor frio que percorreram seu rosto na noite anterior. A adrenalina correndo nas veias acima da velocidade apontada pelo velocímetro. Ele não percebe que está já bem próximo ao muro.

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A cada novo cliente na fila Gilvaneide sente o pesar da espera. Não pode sair antes do trabalho pois já havia faltado ao serviço duas vezes neste mês para acompanhar seu filho na UPA por causa da asma. O gerente avisou que mais uma falta e seria demitida. O seu salário é a única fonte de renda da casa. Ansiosa, passa rapidamente as compras com vontade de correr ao hospital.


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 Como se flutuasse em gravidade zero em um plano de existência paralelo ao nosso Joana escuta distante as vozes dos profissionais que a assistem. Quase ensurdecedor é o gotejamento do soro que a impede de perceber claramente o que esta a sua volta. Entretanto, gradualmente, o gotejar vai se transformando no ruidoso som da cachoeira que ficava na fazenda onde foi criada. E de repente ela estava lá na beirada do rio com os pés molhados, ouvindo os pássaros, e não prognósticos.

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Yan desceu da cabine do caminhão sem saber o que iria fazer. Em sua distração acabou acertando a traseira do caminhão em um muro e o derrubou quase ferindo um criança que brincava no quintal de sua casa. Ela chorava e seu reflexo foi ir de encontro a ela para confortá-la. Entretanto ao olhar no seu rosto enxergou o rosto da mulher que atropelara e não se conteve. E chorando copiosamente foi consolado pela menina.

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Além da velocidade agora Gilvaneide imprimia também sua raiva ao passar os produtos pelo caixa. Raiva por suas dificuldades financeiras, por ter sido abandonada pelo companheiro quando descobriu estar grávida, pelo emprego que executava sem gostar e que rendia pouco, a asma do filho e finalmente o acidente da mãe. Quando uma cliente começou a retirar itens já cobrados para diminuir a conta ela não aguentou. Sem dizer nada se levantou e saiu do supermercado a caminho do hospital. 

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Joana estava tranquila naquela ambiente familiar. Se sentia segura. Mais que isso, finalmente em paz, depois de muito tempo. A etereidade do vento que sopra no seu rosto, da água refrescante que molha nos seus pés, o cantarolar dos pássaros que a cercam só aumenta. Aos poucos o ambiente vai se tornando saturado de uma luz branca que dificulta a individualização do seu entorno. Já não conseguia nem mesmo perceber onde ela acabava e começa o resto. Fazia parte do todo agora. 
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sábado, 2 de fevereiro de 2013

348




Duas vezes por semana ele ia à casa dos avos. Lá se divertia. Sempre havia algumas moedinhas no bolso guardadas para os netos. Cada um tinha seu apelido na linguagem própria do vô que divertia a todos. Em um grande quintal com árvores e animais de estimação passava essas tardes.  Por vezes o explorava como um pirata, sem camisa e com uma espada de ripas de caixa de uva feita pelo avô. Fazia experimentos com tintas, óleos e querosene da velha gráfica no fundo do quintal. Dirigia caminhões em cima das máquinas, desenhava em papéis de variadas cores e texturas. Sentado ao pé do sofá assistiam jogos de futebol enquanto almoçavam. A cada visita experimentava frutas diversas, direto do pé. Mangas, jambos, abacates, morangos e uvas.  E o carinho e cuidado de quem cuidava dos netos como quem rega uma muda torcendo para que pegue.  

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Diário da balança #5: 115(-1)

Fase um concluída: pela ducentésima quadragésima oitava vez, voltei a dieta. Realmente é mais agradável preencher o vazio interior com comida mas estou novamente firme. Nas convicções, no abdome nem tanto. O problema é que para aguentar o processo vou precisar de agilizar alguns resultados para dar ânimo e continuar no regime. Resolvi então implementar a fase dois e começar uma atividade física. Tentei bicicleta mas convenhamos, um gordo em cima de uma bicicleta é visualmente incongruente. Pensei em voltar ao habitat natural e fazer natação mas desanimei com a sunga. Optei então por caminhar. Mas acho que terei de rever o plano para a fase dois. Em qualquer direção que caminhe partindo da minha casa encontro uma padaria ou trailer de sanduíche, e isso anda sabotando a fase um.
Alexandre, o graaaaaaaande.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Metonímia

Saudade é só o que eu sinto
não tem hora certa
não é apenas quando você me vem à mente
mesmo porque não consigo te esquecer

É estranho, depois de tanto tempo
a saudade já faz parte de mim
abraçado à expectativa vã, incerteza
sem ao menos saber quando vou ver você

Sinto muito a sua falta
me  acostumei a ter você por perto
me acostumei com você
me acostumei com nós dois

Às vezes me pergunto
por que te amo tanto
por que eu sofro tanto

Sofro assim por que preciso
ter você perto de mim
e preciso de você por que eu te amo
 
É estranho, já faz tanto tempo
mas a saudade ainda é parte de mim
solidão é minha única certeza
quando vejo seu rosto no vidro da janela

Sinto muito a sua falta
não esquecerei de quando esteve perto
não esquecerei de você
não esquecerei de nós dois

Às vezes a saudade dói
sei que essa dor é vontade de chorar
então choro

Então eu choro
enlouqueço, imploro
e aí a dor passa, a saudade não.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Variações sobre um mesmo tema

Não tenha medo
Nem tudo tem explicação
Há mistério em quase tudo, nem todo veludo é azul
O coração sempre arrasa a razão
O que é preciso, ninguém precisa explicar
O mundo é muito grande pra quem anda de avião
Pra quem anda sem destino ele cabe na palma da mão

O coração sempre arrasa a razão
O que não tem explicação, ninguém precisa explicar
O sol ainda se levanta no meio de tanta confusão
No meio da madrugada ele ilumina o Japão...
O coração nunca cansa da canção
O que tá escrito na canção
Ninguém precisa aceitar
                                                     Humberto Gessinger



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Bolsa - Eu

     Primeiro era uma gentileza. Um ato cortês que por vezes enrubescia a face de uma senhora mais tímida ao cavalheiro ceder seu assento no ônibus. Depois vieram os embriões do mal vindouro: as cadeiras cativas para idosos, gestantes e pessoas com incapacidades temporárias ou permanentes nos coletivos. E foi assim que um sistema de segmentação foi implementado na sociedade brasileira.
     O problema é que éramos melhores quando não existia a obrigação de ceder aquele espaço. Hoje temos dois principais tipos nos coletivos: os sociopatas, que se sentam nos lugares claramente indicados como preferenciais mesmo se uma gestante está de pé ao seu lado; e os ressentidos, que não cedem lugar de forma alguma, mesmo se ao seu lado estiver uma idosa de muletas segurando um bebê,  uma vez que já existem lugares previamente cedidos pela lei. 


     Embora os dois primeiros parágrafos possam parecer um pouco extremistas, insensíveis ou mal educados, na verdade são uma manifestação mista de desânimo e resignação. Desânimo pois o sistema de bolsas, cotas, reservas e etc. não necessariamente resolve a questão a que se propõe e é usualmente baseado em preconceitos. Resignação por ser da minoria sem direito, melhor dizendo, com o direito de ter de sustentar o sistema sem me beneficiar dele.
     O preconceito envolvido no sistema de cotas em universidade ou serviço público é evidenciado por assumirmos de cara limpa que uma parcela da população não é/será capaz de concorrer de igual para igual com a parcela antes vista como privilegiada. Então criamos um atalho no percurso da corrida que só será usado pelos competidores que forem negros, índios ou azuis - enfim, qualquer segmento que se queira beneficiar - porque se não os pobrezinhos não conseguirão competir em igualdade.
     Coitadinhos, são tão incapazes de viver por sua conta que eu, vamos chamar de aristocracia brasileira, muito bondosa, crio mecanismos para ajudá-los. Ajudá-los? Ela legisla em causa própria. Isso me lembra a justificativa de que os negros da África poderiam ser escravizados por não possuírem alma no início da expansão marítima. Ao fazer o bolsa-gás, bolsa-família, bolsa-cultura, cotas para negros ou alunos provenientes da rede pública, a aristocracia vigente consegue aumentar seu curral eleitoral e se perpetuar no poder. Ou será coincidência a mudança de padrão de voto da direita conservadora para a esquerda mão aberta no norte e nordeste do país, maiores beneficiados pelos programas assistenciais estatais, agora em peso com Lula, Dilma e o PT, mas que antes nos presentearam apenas com Collor, Sarney, Calheiros... e agora além de manter tais pérolas no senado ainda dão suporte a nossa sinistra ditadura velada de governo do povo.


     Já a minha resignação tem a ver com o fato de, enquanto jovem, branco, proveniente da classe média e com bom nível educacional, ter de sustentar todo o sistema de privilégios a várias fatias da sociedade com os cerca de 37% de impostos que o governo retira do meu trabalho sem ter direito a nenhuma contrapartida. Isso ocorre desde a minha infância, pois meus pais - que sempre pagaram impostos - tiveram de por a mão no bolso novamente para que eu estudasse em uma boa escola, tivesse uma assistência médica adequada quando necessário, dentre outras despesas em duplicidade com as quais arcaram por ineficiência do estado em prover o que propunha ao receber o dinheiro deles.
     Hoje percebo que vou trilhar caminho semelhante ao dos meus pais, arcando com os impostos e com despesas particulares para cobrir as carências nos serviços que o governo se diz obrigado a prover, cobra alto por eles e simplesmente não cumpre com suas obrigações. A diferença é que agora sustento também vários pequenos segmentos da sociedade que o governo elegeu como interessantes para angariar seus votos também, não somente meu filho. E sem direito a nenhuma contra partida, perdendo ainda o direito de concorrer de forma igual a cargos públicos ou vagas em universidades.

     Enfim, venho por meio deste texto solicitar a criação de uma vaga especial em uma cota do governo. Uma bolsa, quem sabe uma pochete. Ao menos um assento no ônibus. Qualquer benefício que sirva como a cenoura na frente do burro que puxa a carroça pra frente. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Adeus 2012


                                           O grito - Edvard Munch, 1893

A opressão do self

Espero que a Karina não tenha esquecido seu lanchinho Foi preparado com amor e carinho Nesse cotidiano cada vez mais mesquinho É preciso um ...